segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A criança de outrora:

O despertar da sensibilidade
Vezes sem conta o vulgo se questiona sobre a vida dos artistas em geral: no seio de que família nasceram; de que forma viram na arte o seu ideal de criação de um dia a dia diferente e, sobretudo, o porquê de preferir um sobreviver através da arte ao invés de viver comummente debruçando-se sob uma outra área que permiti-se por si só um estilo de vida mais facilitado em diversos campos.
Negaria toda a minha existência até aos dias de hoje, se eu própria não reconhecesse que todas essas interrogações já percorreram o meu interior.
Tal como toda e qualquer criança fui gerada no ventre de uma mãe; nasci na altura devida e brincava, pulava e saltava (...), momentos de infância nos quais não reside sequer um ínfimo espaço para termos um momento, ainda que fugaz, que nos remeta àquilo que mais tarde serão as nossas preocupações. Mas ainda bem que assim é.
Cada momento tem o seu momento próprio!
De nada serve tentar olhar os ponteiros do relógio e com os nossos dedos dedilhá-los, ora para um lado, ora para o outro na esperança de que o tempo pare ou avance, simplesmente porque é uma vontade nossa. Pois o tempo tem o seu próprio correr e, tal como um rio percorre um trilho constante, também ele tem um rumo certo e constante. Os ponteiros de um relógio giram todos no mesmo sentido; o tempo é universal!
Como criança irrequieta e teimosa que fui, criava e construía profissões imaginárias e, no momento seguinte, lá estava eu sentada diante do meu consultório a atender os meus pacientes; pagava naquelas pequenas meninas a que chamamos bonecas e costurava eu própria as suas roupas; diante de uma mesa dispunha inúmeros lápis coloridos e canetas e aí sim, deixava o meu imaginário flutuar num céu ainda em aberto...
Nessa altura talvez os lápis fossem somente um instrumento didáctico ou até mesmo um simples brinquedo. Contudo, ano após ano, os lápis e as canetas eram cada vez mais frequentemente procurados e agarrados pelas minhas pequenas mãos!
A Lúcia, essa menina pequenina que eu era fazia desenhos muito estranhos (a idade não ajudava muito) e escrevia cartas a amigos distantes, tão distantes que nem endereço postal possuíam! Mas fazia-o cada vez com mais frequência!
A entrada na escola foi um marco muito importante na definição dos meus ideais como aliás o deve ser actualmente para qualquer outra criança.
Foi nesse preciso momento que eu comecei a conhecer-me melhor; a perceber os desenhos que fazia e até mesmo a descobrir o endereço daqueles a quem dirigia as minhas cartas.
Vivia um dia após o outro evidentemente, mas começava a surgir uma necessidade cada vez mais forte de comunicar de forma clara e concisa. Claro está que dada a idade que tinha, todos aqueles que me rodeavam achavam que eu pensava em demasia, que deveria limitar-me às brincadeiras adequadas às meninas da minha faixa etária. E brincava, mas sentia um vácuo no meu intrínseco; a vontade intensa de procurar e descobrir o verdadeiro conhecimento: o porquê de tudo e de mais alguma coisa. Assim comecei a busca do auto-conhecimento e sentia-me mais preenchida!

A essência da sensibilidade brotava do meu interior e os meus sentidos assemelhavam-se a uma bússola, tacteavam cada pedaço de solo e quando não o pisavam de forma firme e constante, procuravam a direcção correcta para avançar!

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