terça-feira, 19 de junho de 2007

O prefácio do meu livro



Nesta sua incursão de estreia pelas terras mágicas da poesia, Lúcia Valente brinda-nos com um conjunto de poemas intensos e apelativos, povoados de imagens e de sensualidade, que nos remetem para o mundo encantado dos sentimentos - saudade, amor, paixão, partilha, busca e perda.
O discurso flui, incessante, constrói-se e desconstrói-se perante os nossos olhos, flutua, como um tecido vaporoso, etéreo, desvendando a pouco e pouco as paisagens e os abismos de uma alma que se nos revela sensível, sofredora, lutadora e insaciável; ou não serão assim mesmo as almas dos artistas?
Apesar da multiplicidade de estados de alma e de sentimentos que as constelações das palavras nos vão permitindo testemunhar, tecendo um esforço de natureza mais analítica, é possível ir identificando alguns elementos invariantes, marcas identitárias de um discurso, de entre os quais o elemento unificador parece ser o amor.
Nesta sua interpretação do amor a autora exalta o objecto do amor na sua dimensão física, corpórea e sensual. Para além desta dimensão, o objecto amado é exaltado pelas suas qualidades psicológicas. O amor que, ancorados em torno da dança das palavras, somos deixados testemunhar é um sentimento profundo, fusicional, resultante de uma união total, absoluta e por vezes vivenciado como indestrutível. Em momentos outros, neste caleidoscópio de estados de alma e de sentires, o amor, antes indestrutível, corre riscos, é ameaçado, questionado pela eminência da perda, perda que por vezes se torna real, palpável, inevitável. A perda é tão mais dolorosa quanto infinito foi o esforço de conquista, a luta, o envolvimento, a tenacidade da amante guerreira e apaixonada que por vezes se auto-perspectiva como “cavaleira andante”, como a “escultora” no sentido de agente de transformação da realidade, como a protectora do ser amado.
O discurso poético emerge, repleto de imagens que lhe conferem força, eloquência e uma textura estética. Para além das vicissitudes inerentes ao desenrolar da relação amorosa e aos conflitos internos do ser que ama, o contexto social, a sociedade em geral, o grupo dos “que se dizem normais” surgem como os elementos punitivos, sancionadores de uma relação homossexual e susceptíveis de ferirem a alma da artista. O facto é que, superior à pressão da sociedade portuguesa conservadora para que todos sejamos iguais, Lúcia, a mulher, a pintora e a poeta, se revela e se assume, É, em toda a sua plenitude “Eu sou a mulher!/Eu sou a pintora!/Eu sou a escritora!”. A sua poesia, ao revelar-nos um pouco do ser humano na sua força e na sua concomitante fragilidade, não nos pode ser indiferente, envolve-nos, toca-nos, toca-me e mostra-nos que o sentimento do amor é só um e universal.
Resta-me, pois, desejar que, a este livro que constitui, em si mesmo, uma conquista, outros se sigam e nos surpreendam pela sua qualidade.

Joana Miranda
Escritora/Psicóloga/Professora universitária

1 comentário:

Anónimo disse...

Fiquei estonteada após a leitura deste prefácio...
Essa Joana Miranda, faz uma interpretaçao apaixonante e pormenorizada do teu livro. Denota-se uma incursão profunda pela tua obra, consegue entrar no nosso imaginário e saciar a nossa curiosidade.
Sao palavaras de cristal, oiro ou prata, que de tao brilhante que são, nao consigo parar de as olhar, ler e reler... Fantástico.
Uma poética obra de arte, nua, livre, apaixonante... que nos encanta, imobiliza e seduz. Após a leitura deste extenso prefácio,antevejo o seu brilho mágico, a sua essência, sensibilidade e sensualidade.
A nossa alma tem destes mistérios, surpreende-nos quando menos esperamos... és sem dúvida uma artísta genúina. Parabéns.
O AMOR é um tema Universal, mas só quem o sente na pele... delira à sombra da sua verdadeira essência.
Vocábulos para quê? basta sentir... deixar invadir, inspirar e VOAR.
Paleta de cores, rebento de vida... sensibilidade inata nesse teu caleidoscópio da alma.

Resta-me apenas conhecer-te, uma vez que admirar-te já é uma realidade do presente... deixei a âncora algures em porto seguro, contudo qualquer obra de arte, nao seduz apenas o seu autor.

Parabens!
Pimpinha :)